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“Contrata-se por estratégia, mas a inclusão está na cultura”

As empresas estão contratando pessoas com deficiência, negros e abrindo vagas afirmativas para a comunidade LGBT, mas o que realmente promove a inclusão é a cultura organizacional

O CBTD 2024 – 39ª edição do maior Congresso de Treinamento e Desenvolvimento da América Latina – abordou as questões mais relevantes para a área de Recursos Humanos e apresentou tendências globais aplicadas nas empresas. Entre as palestras, um tópico ganhou destaque: como as organizações atuam em relação à diversidade e inclusão.

Reflexo disso foi o discurso de Carolina Ignarra (capa), CEO e sócia fundadora do Grupo Talento Incluir, que enfatizou o papel estratégico da área de treinamento e desenvolvimento na construção da cultura. “Contratamos por estratégia, mas incluímos por cultura. As empresas estão contratando pessoas com deficiência, negros e abrindo vagas afirmativas para a comunidade LGBT. No entanto, o que realmente promove a inclusão é a cultura organizacional. Apoiamos a divulgação de uma pesquisa com 3.700 respondentes, revelando que 49% nunca foram envolvidos ou participaram de treinamentos na organização. E a consequência disso é evidente: entre os promovidos, 60% não receberam aumento salarial.”

Além de proporcionar uma programação rica sobre o assunto, o próprio CBTD 2024 promoveu diversidade em sua equipe. Durante os três dias do evento, 19 pessoas com deficiência e representantes de 6 etnias diferentes, com idades entre 18 e mais de 65 anos, trabalharam. A seleção considerou também questões de gênero e orientação sexual, contando com 147 mulheres, 57 homens cis, 3 homens trans e 3 não-binários, incluindo 1 pessoa assexual, 17 bissexuais, 168 heterossexuais, 20 homossexuais e 2 panssexuais.

Sua carreira é você quem faz

Ana Paula Padrão, jornalista e palestrante, iniciou sua apresentação com a afirmação: “Você pode escolher quem quer ser. Parece arrogante, porque nem todos têm esse poder de verdade, mas, dentro de algumas circunstâncias, você pode escolher quem quer ser. E essa afirmação é mais de ordem científica do que estrutural.”

Ao compartilhar sua trajetória, ela mostrou como saiu de Brasília e conquistou reconhecimento nos principais veículos de imprensa, explorando o mundo através do jornalismo. Para Ana Paula, a carreira não é construída individualmente.

“Por que nem todas as pessoas constroem seu próprio futuro? Primeiro, devido a comportamentos adquiridos, principalmente ao identificar quais sentimentos transformam tristeza, frustração, angústia e ansiedade em agressividade contra os outros. Além disso, há uma série de circunstâncias; não partimos do mesmo ponto. Obviamente, nascer em Brasília, ser filha de alguém intelectualmente capaz e ser branca impactou minha vida”, relatou.

Ana Paula enfatizou a necessidade de encontrar novas maneiras de atrair as gerações que precisam aprender, destacando que aprender hoje envolve ensinar simultaneamente.

“O segredo do sucesso de hoje não garante o sucesso dos próximos dez anos. Curiosidade sempre. Nós somos o que fazemos continuamente. Sucesso não é talento, é hábito. Trabalhe mais do que todos. Eu fiz tudo isso. O sucesso é uma escolha. Pensar todos os dias sobre como o mundo é injusto não constrói sucesso. O mundo é injusto, mas não adianta sair de casa internalizando essa frase todos os dias, porque você não vai chegar a lugar nenhum. O sucesso nunca é individual. Use seu cérebro para entender e competir com as pessoas. Sucesso não é fazer o que você gosta, mas fazer bem o que você gosta; gostar é seu hobby. Sucesso é entender que a carreira não é construída sozinha; é sua responsabilidade. Não é responsabilidade do seu chefe, não é responsabilidade da escola, é sua responsabilidade. O sucesso depende de pensar positivamente”, concluiu.

Priorizando a segurança psicológica

Izabella Camargo, comunicadora e uma das vozes mais ativas na promoção da saúde mental no mercado de trabalho, enfatizou que criar um ambiente mais acolhedor requer compreender as responsabilidades tanto das empresas quanto dos indivíduos. Para ela, cabe às organizações oferecer comunicação clara e transparente, suporte psicológico adequado, regras claras, flexibilidade e o direito à desconexão. Por outro lado, os colaboradores devem focar na autorresponsabilidade, realizar terapia para compreender questões profissionais e pessoais, e estudar educação financeira.

A jornalista defendeu a criação de EPIs para saúde mental, que são dispositivos usados para prevenir riscos à saúde e segurança durante a execução de determinadas atividades. Com o apoio do Zenklub, desenvolveu um adesivo para complementar óculos, botas, luvas e outros acessórios usados para proteger contra riscos físicos.

Os participantes puderam acessar um manifesto através de QR Code e assiná-lo, visando promover um ambiente de trabalho mais sustentável e equilibrar uma carreira de sucesso com uma vida saudável.

Economia da atenção e os perigos dos algoritmos

“Correria. Correria. Correria. Cansado. Muito cansado. Correria, mas para onde? Espero que haja uma ponte nesse abismo, porque até agora, estamos correndo para um abismo. O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han afirma que vivemos em uma sociedade do cansaço, onde devemos fazer tudo ao mesmo tempo e, de preferência, no menor tempo possível.” Assim, Genesson Honorato, palestrante e psicólogo, abriu sua plenária no CBTD 2024.

Para contribuir com a reflexão sobre o quão cansada está a sociedade, ele citou uma entrevista do ex-CEO da Netflix, Reed Hastings, sobre os principais concorrentes – que, ao contrário do que muitos pensam, não são o TikTok, Instagram ou LinkedIn, mas sim o sono das pessoas. “Por isso, o botão que avança para o próximo episódio de uma série foi removido. E se você estiver dormindo? Isso é assustador, eles estão competindo pelo sono das pessoas e cada vez estamos dormindo menos”, disse.

Para ele, estamos na economia da atenção, onde tudo está relacionado a alguma plataforma, algum algoritmo, notificação… Todos tentando capturar nossa atenção. “O dia ainda tem 24 horas, o mês ainda tem os mesmos dias, mas a má notícia é que sentimos que o tempo está passando mais rápido porque não estamos prestando atenção ao que estamos fazendo. Isso nos faz refletir sobre o que a tecnologia tem feito conosco, gerando problemas significativos de saúde, engajamento, atenção e autoconsciência. Precisamos recuperar nossa consciência e nossa conexão com nosso corpo”, declarou.

A importância da conexão humana em um mundo digital

A abordagem de Beto Parro e Rafael Ernest Moritz foi totalmente interativa, envolvendo os congressistas. Durante a palestra, eles desafiaram os participantes a montar um cubo mágico para testar a flexibilidade psicológica. “É algo simples, mas simbólico. Quais palavras vêm à mente quando você vê esse objetivo? Complexo, difícil, trazendo sentimentos de raiva, ansiedade… Rafa e eu, como psicólogos, decidimos testar esse conceito. Flexibilidade psicológica não significa apenas mudar o mindset e dizer que querer é poder. É colocar à prova”, explicou Beto.

Dando instruções básicas, eles conseguiram que uma convidada montasse o cubo em menos de um minuto, sem olhar para o que estava fazendo. “Desmistificamos a ideia de que é necessário ter paciência e resiliência para fazer o impossível se tornar possível. Às vezes, a conexão ajuda mais do que uma fórmula matemática”, concluiu Rafael.

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