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Com operações com ativos virtuais cada vez mais comuns nas empresas e até o metaverso, o auditor independente tem um desafio adicional de acompanhar, com espírito crítico, as mudanças tecnológicas que afetam os negócios e a própria profissão, de acordo com o Ibracon (Instituto de Auditoria Independente do Brasil).
Nesse contexto, como o auditor deve conduzir os exames contábeis em clientes que operam no mundo virtual? “Tal exigência é muito clara, por exemplo, na verificação da propriedade de criptoativos, como criptomoedas ou non-fungible tokens (NFT). Trata-se de um desafio adicional quando comparado ao exame de ativos físicos, tais como estoques de mercadorias”, observa o Ibracon, na série de artigos Mind the Gap, sobre o papel da auditoria independente e as expectativas do público em relação ao trabalho dos profissionais.
Mencionando um estudo da Associação dos Contadores Certificados (ACCA), o Ibracon disse que os auditores independentes enfrentam um ‘gap’ (lacuna, na tradução para o português) de evolução relacionado a assuntos tecnológicos.
E essa é justamente uma das áreas onde a auditoria pode evoluir para atender ao interesse público e agregar mais valor ao seu trabalho. Resumindo, é sobre como a auditoria externa (ou independente) pode melhorar seu trabalho por meio de avanços tecnológicos.
Dentro do gap de evolução, está o desenvolvimento de novas tecnologias e o ambiente dinâmico dos negócios, observa a entidade. Hoje, softwares de machine learning, big data, automação de processos e algoritmos de inteligência artificial (IA) trazem rapidez e precisão aos trabalhos, além de custos reduzidos e maior eficiência.
Esse ganho de produtividade também vai se traduzir em exames mais aprofundados das contas dos clientes, acrescenta o Ibracon. “Trazendo maior segurança para as análises, talvez, num futuro próximo, o trabalho dos profissionais de auditoria possa cobrir grandes conjuntos de dados que, devido a seu tamanho e ao custo envolvido, hoje, somente são analisados por amostragem”.
Então, no futuro, os exames de auditoria serão feitos exclusivamente por ferramentas de IA? Não é bem assim. Em muitos casos, o limite do conhecimento humano pode criar distorções na programação da IA, o que exige cautela no seu uso.
A aplicação de algoritmos capazes de replicar e aprender o comportamento humano também pode reproduzir as limitações de julgamento, tais como vieses e problemas inerentes à base de treinamento, que podem levar a decisões inapropriadas, pontua o estudo.
“É fundamental que se conheça o que há por trás das tecnologias utilizadas, com o constante aprimoramento profissional, para que as ferramentas não sejam vistas como ‘caixas-pretas’ fornecedoras de soluções inequívocas”, segundo o Ibracon.
Ainda segundo a entidade, a tecnologia serve para facilitar o trabalho do auditor, mas não substitui a sua experiência. “O julgamento profissional não pode ser delegado a ferramentas ou sistemas automatizados: ele exige a aplicação de todo o treinamento, conhecimento técnico e experiência do auditor, para emitir sua opinião a partir das evidências obtidas”.
A inspiração do Ibracon para a série de artigos “Mind the Gap” veio do metrô de Londres e significa, em português, Cuidado com o Vão (ou Lacuna). Assim como na capital londrina, esse aviso pode ser visto nos metrôs brasileiros e alerta para a existência de uma lacuna entre o trem e a plataforma da estação, servindo de alerta para que os usuários fiquem atentos e evitem acidentes.
O ‘gap’ da Auditoria Independente se refere às suas atividades e objetivos de fato e as expectativas do público em geral sobre o trabalho desses profissionais.
O foco do auditor independente não é a detecção de fraude, mas, sim, emitir uma opinião sobre a legitimidade das demonstrações contábeis. Se forem encontradas evidências de ilicitude durante o exame, o auditor deve comunicar o ocorrido à administração da empresa e os seus efeitos nas demonstrações contábeis, incluindo sugestões de correção.
Em caso de práticas ilícitas, é papel da alta administração da empresa apurar responsabilidades e acionar as autoridades competentes.