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A trajetória de alta dos juros começa a produzir efeitos nesse segundo semestre, colaborando para manter o varejo em desaceleração. O setor deve encerrar 2022 com alta de 1,3%. A projeção, com ligeira queda sobre o mês de maio (1,4%), é dos economistas do Instituto de Economia Gastão Vidigal da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Enquanto o setor, no todo, tenta se recuperar da pandemia a passos lentos, o e-commerce, que bateu recordes em 2020 e 2021, agora perde força pelo retorno das compras presenciais. E enfrenta desafios para crescer - como entregar mais rápido que a concorrência.
A análise é dos empresários e economistas presentes à reunião mensal do comitê de Avaliação de Conjuntura da ACSP, realizada nesta quinta-feira, 30/06.
As vendas on-line cresceram 14% no primeiro trimestre deste ano, alta inferior àquelas verificadas em igual período de 2020 e 2021, no auge das medidas restritivas, que chegaram a 32,27% e 57,6%, respectivamente, segundo um especialista em e-commerce presente à reunião, citando dados do relatório Neotrust-Compre&Confie de maio último.
Entre os fatores que puxam para baixo os indicadores de compras virtuais estão a alta da inflação e a redução da massa salarial, que diminuíram o poder de compra do consumidor e, em consequência, os lucros de grandes marketplaces do ramo, como Magalu, Via e Americanas, que viram seus papéis na Bolsa desabarem 6% em abril.
"O varejo é um setor originalmente com margens baixas, por isso, é o primeiro a sofrer os impactos negativos em um cenário de alta da inflação, juros e carga tributária", disse o especialista, citando números do relatório sobre o crescimento decrescente do faturamento do e-commerce no primeiro trimestre de 2022, de 21% em janeiro para 13% em fevereiro, e depois 5,4% em março.
Por venderem produtos não essenciais, e baixarem muito os preços com o grande crescimento dos pedidos no período de isolamento social, agora essas redes experimentam quedas seguidas, explicou.
Assim, ser mais veloz que a concorrência, em um mercado com players como Amazon e Mercado Livre, será o grande desafio do e-commerce em 2022, lembrando que os grandes marketplaces, incluindo os brasileiros, agregam 80% das vendas totais pela internet.
"Todo mundo (os pequenos e-commerces) foi para esses lugares para vender na pandemia, e os 20% restantes que ficaram fora agora estão lutando para sobreviver", disse.
Além do frete grátis, disponível em 7 a cada 10 pedidos, segundo o especialista, o consumidor se acostumou com entregas feitas no dia seguinte ou, em alguns casos, até no mesmo dia.
Portanto, sai na frente quem tiver mais centros de distribuição, estoques em lojas físicas e até motos e carros de aplicativos na última milha. "O desafio é entregar mais rápido", reforçou.
Mesmo com a desvalorização de suas ações, o modelo do Magalu é o que está mais atualizado para enfrentar os próximos anos, disse, já que há integração completa de canais, centros de distribuição descentralizados e vendedores com apps para vender também nas lojas físicas.
"Se a varejista sobreviver, é a que estará mais bem preparada quando esse vento mudar."
FUSÕES DEVEM CONTINUAR
O movimento de fusões e aquisições em vários segmentos do varejo, que ganhou força na pandemia quando muitas marcas se uniram para readequar suas operações, deve continuar agora nos shoppings centers, disse um especialista do setor no encontro da ACSP.
A fusão recente de dois grandes grupos - Aliansce Sonae com BR Malls - criou uma companhia com 77 shoppings, agora a maior do Brasil. O próximo passo será da Ancar Ivanhoe, que também está negociando a fusão com um grande grupo, destacou.
"Hoje temos mais de 630 centros de compras no país, mas só essa fusão passa de 10% do mercado", disse. "Mais de 400 são proprietários individuais, a concentração ainda é pequena, por isso a tendência é ocorrer outras fusões, mesmo menores."
Com a recomposição gradual do varejo, os índices de vacância em shoppings, que passaram de 80% em alguns casos, agora começam a diminuir, explicou. Também estão subindo valores de aluguéis de pontos, já que os descontos concedidos em 2020 e 2021 foram cancelados.
Mesmo assim, centros de compras menos consolidados, ou mesmo grandes shoppings com vacância inferior a 5% - como é o caso do Eldorado, Morumbi ou Iguatemi, por exemplo - têm procurado outros caminhos para sobreviver frente a um consumidor mais digital.
Com isso, também diminui a inauguração de shoppings, que chegou a 80 anuais, para oito, em média. "Mas aumenta a possibilidade deles se tornarem hubs para varejistas na last mile (última milha), dentro desse objetivo de fazer as entregas mais rapidamente", afirmou.
Outra tendência é a dos stripmalls que, assim como as lojas de rua, têm custos menores para operar, e por isso não devem sofrer maiores sustos, por serem formatados para atender à população do entorno com minimercados, lotéricas, cabeleireiros e outros serviços.
"O consumidor quer cada vez mais conveniências, e redes como a mexicana OXXO querem chegar a 200 lojas no Brasil esse ano também nesses locais, e exatamente com esse papel."