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Quando se fala em empreendedorismo no Brasil, ou seja, o ato de criar e gerenciar um negócio, encontramos um cenário de muitas contradições.
Se por um lado, o Brasil é considerado um dos dez países líderes em empreendedorismo no mundo, segundo relatório do GEM (Global Entrepreneurship Monitor), realizado anualmente desde 2001, e que avalia a quantidade de cidadãos envolvidos em atividades voltadas para negócios.
Por outro lado, um estudo do Banco Mundial, realizado desde 2003, coloca o país na 125ª posição entre 181 países no critério "facilidade de fazer negócios". Esse critério é medido por atributos como facilidade em abrir e fechar uma empresa, em obter crédito e em fazer valer contratos.
Esses estudos expõem que apesar do brasileiro ter um perfil empreendedor, a ampla burocracia e a falta de incentivos fiscais atrapalham um melhor desenvolvimento quando o assunto é abrir um negócio. "A verdade é que para o empreendedorismo qualificado, o Brasil ainda gera pouquíssimo estímulo", diz Marcos Piccini, Sócio-Diretor da Piccini & Fumis Consulting and Management. "A maioria dos cérebros mais brilhantes do nosso país é atraída por grandes empresas, que oferecem condições atrativas de salários, oportunidades de desenvolvimento e crescimento, com relativa segurança."
O especialista Piccini revela que para entender essa discrepância nos dois rankings sobre empreendedorismo, deve-se compreender os três tipos de empreendedores existentes no Brasil: os sem oportunidade, os oportunistas e os que "pensam grande":
· Empreendedores sem oportunidade são aqueles que por não terem chance no mercado de trabalho, acabam encontrando no empreendedorismo a única solução digna de sobrevivência. "Pouco qualificados, muitos fracassam ou gerem o negócio com o único objetivo de sobreviver, causando assim pouco impacto econômico.", explica Marcos Piccini. Eles são os principais responsáveis pela décima posição do Brasil no ranking dos países líderes em empreendedorismo no mundo, uma vez que a pesquisa é feita tendo como critério o número de indivíduos que possuem empresa no país.
· Empreendedores oportunistas possuem geralmente qualificação e ambição superiores, mas encaram a atitude empreendedora como uma "tacada de sorte". Para eles, o sucesso se dá pela constante busca de oportunidades pontuais e pela agilidade e coragem em "investir" nelas. "O problema é que o oportunista não está preocupado em construir um negócio duradouro e o seu vínculo é puramente financeiro – com o objetivo de extrair o maior valor possível daquela oportunidade em curtíssimo espaço de tempo. Logo depois, ele parte para a próxima", esclarece o consultor.
· Empreendedores que pensam grande - são indivíduos realmente diferenciados, não necessariamente pela sua qualificação, mas essencialmente pelo seu caráter e comportamento. São indivíduos que carregam consigo uma enorme ambição e entendem o valor de construir algo sólido e sustentável. Com certeza eles esperam maior suporte do governo, porém não justificam suas dificuldades pela ausência destes, e seguem lutando incansavelmente por seu espaço no mercado, crescimento, desenvolvimento e sucesso duradouro.
"É desse tipo de empreendedor que o cenário econômico brasileiro precisa", alerta Marcos. Os "empreendedores que pensam grande" são munidos de estímulos e farão de seus negócios estruturas realmente diferenciadas e de grande impacto na economia do país.
O Brasil perde potenciais empreendedores por falta principalmente de referências e estímulos governamentais – o que acaba com a coragem da decisão de empreender. Entretanto, de acordo com Marcos Piccini, o cenário do país vem mudando e os novos e jovens empreendedores devem estar atentos a essa transformação.